segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A ESCOLA DE ONTEM II


Uma história contada pela senhora Albina Oliveira.

Os meus tempos de escola…

Éramos cinquenta alunos numa sala de aula, divididos entre a segunda e a quarta classe, na escola primária S.Silvestre do Bunheiro, decorria o ano lectivo de 1961-1962.
Há coisas que nos acontecem e que ficam para sempre gravadas na nossa memória, pela profundidade que nos tocam e foi o que aconteceu naquele memorável ano.
Era obrigatório o uso de bata, em que as meninas vestiam de cor branca e os rapazes de cor azul e se sentavam em filas diferentes. Estavam em péssimo estado, pois passavam de irmãos para irmãos assim como os livros de ensino. Os recreios eram igualmente separados e coitado daquele que por acidente fosse parar ao local errado.
A nossa professora era temível D.Margarida Cascais, natural da mesma freguesia e que a sua fama já era conhecida entre os alunos assim como os seu famoso lenço azul. Rezava a história que sempre que a D.Margarida o usava, o dia de aulas ficava para recordação durante os dias seguintes.
Ir para a escola era uma tortura não por ser obrigatória, mas porque sempre havia castigos, pois bastava que um aluno se portasse menos bem que o castigo se estendia a todos. Era como no regime militar!
Ela tornava a vida dos alunos num inferno, tantos eram os castigos que restava pouco tempo para aprender e aqueles que tinham mais dificuldades ficavam retidos sempre no mesmo ano, anos a fio e só dali saíam quando tinham catorze anos qualquer que fosse o ano que frequentasse. Alguns deles saíam apenas coma segunda ou terceira classe concluídas.
Os nossos cadernos diários eram um conjunto de folhas amarrados com um cordel e as nossas canetas eram um pau em que se colocava um bico e que se molhavam nos tinteiros que estavam nas carteiras. Ora, os rapazes sempre mais desastrados sujavam as batas com tinta e como devem imaginar, lá vinha o castigo da professora D.Margarida, mestre nesta arte.
Ora levávamos reguadas na palma da mão, ora nas costas desta, neste último caso as mãos ficavam tão doridas que no dia seguinte quase não podíamos escrever.
Quando um aluno não soubesse a lição, tinha que percorrer as quatro salas de aula com um cartaz pendurado nas costas com um desenho de um burro com duas orelhas muito grandes ou em alternativa um puxão de orelhas até ao chão. Para alguns era uma tarefa habitual, pois além das dificuldades não contavam com o apoio dos pais pois eram analfabetos.
Quando a D.Margarida vinha com o famoso lenço azul, o castigo durava horas a fio e era quase certo que tínhamos que ficar todos de joelhos com as mãos debaixo destes. O pior que é que não haviam auxiliares de limpeza e as salas estavam repletas de areia. No outro dia la vínhamos nos com as mãos cheias de feridas….
Um dia algo inédito aconteceu naquela escola. Um aluno sentiu uma súbita dor de barriga e como a casa de banho dos rapazes estava ocupada, decidiu ir às das raparigas. Como a demora era muita, a professora decidiu ver o que se passava e quando viu que ele estava na casa de banho das raparigas, decidiu aplicar um castigo exemplar.
Durante uma semana aquele aluno teria que se vestir de rapariga. A professora trouxe de casa uma saia preta de tirilene que estava na moda, uma blusa vermelha que já tinha um buraco e um lenço branco. Todos os dias de manhã o aluno tinha que trocar de roupa e assim ficava durante todo o dia de aulas, sentando na fila das raparigas. Como era inverno e não havia aquecimento, ele tilintava de frio com as pernas ao leu e nos pés apenas uns tamancos já gastos pelo tempo.
E assim se acabava mais uma história igual a muitas outras, passadas naquela época.
Albina Oliveira




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